Feelings! Nada mais do que sentimentos
feelings! nada mais do que sentimentos
Eu tinha um presente para ela, mas na hora de entregar, fui dominado pelo medo. No fim, deixei o disco na sua caixinha de correio, sem sequer um remetente. Eu a amava, mas o receio de ser rejeitado falou mais alto. E assim, o amor ficou guardado apenas nas minhas memórias.
Foto: Autor Desconhecido | Retocado digitalmente por André Augusto C. da Silva. by Wikipedia
Trechos de DonaMãe, também conhecida como Zina.
“Feelings” (em português: “sentimentos”) é uma canção gravada pelo músico brasileiro Morris Albert, lançada em junho de 1974 no álbum After We’ve Left Each Other. A inspiração para a letra, que fala sobre o fim de um relacionamento amoroso, foi uma figura pública carioca pela qual o músico era apaixonado platonicamente.
Às vezes me perguntam o que eu realmente sei sobre a vida, e eu sempre respondo da mesma forma: sei um pouco de tudo, mas não entendo profundamente de nada em particular. Essa é a verdade que eu acabei aprendendo com o tempo. A gente vai acumulando experiências, ouvindo histórias, vivendo situações, mas sempre parece que falta algo para sermos especialistas em qualquer coisa. Exceto por uma coisa — meu próprio sentimento. Esse, sim, eu conheço. E conheço profundamente.
Desde cedo, aprendi a prestar atenção no que eu sentia. Lembro que quando eu tinha cinco anos, houve um momento que marcou essa percepção. Era um desejo simples, um daqueles que só uma criança tem, mas que parecia o mais importante do mundo naquele instante. Eu queria muito um brinquedo. Não era um brinquedo qualquer, era um carrinho de madeira que imitava aqueles carrinhos de sorvete dos vendedores ambulantes. Insisti tanto que, por fim, minha mãe, talvez já cansada de ouvir meus pedidos, acabou comprando. Quando olhei para o brinquedo, ele parecia mágico. Hoje, talvez não fosse nada demais para os olhos de quem vê, mas na época, era tudo o que eu queria.
O carrinho era simples, feito de madeira, com rodas que nem giravam direito. Mas era tão especial que eu me lembro de cada detalhe. O cheiro da madeira, o toque das mãos ao empurrá-lo pelo quintal, o som das rodinhas rangendo no chão áspero. Dentro dele, havia uma caixinha com pequenos picolés de plástico, e eu me lembro vividamente do cheiro desses picolés. Curiosamente, até hoje, quando passo por alguns lugares, aquele mesmo cheiro parece voltar, como se o tempo não tivesse passado. E, por mais que pareça uma bobagem, esse pequeno detalhe me traz uma sensação de nostalgia tão intensa que me faz sentir como se eu ainda fosse aquele menino de cinco anos, cheio de sonhos e desejos simples. Disso, eu sabia. Disso, acho que ainda entendo.
Foi pensando nessas memórias, nessas pequenas coisas que parecem insignificantes aos olhos dos outros, mas que para mim foram essenciais, que decidi escrever este livro. Ou melhor, não quero chamar de livro. Prefiro dizer que é um diário, porque é isso que ele é: um registro pessoal, íntimo, das minhas experiências e dos sentimentos que me acompanham há anos. Não são histórias épicas ou acontecimentos grandiosos. São pequenos momentos que moldaram quem eu sou, que revelam as pessoas que foram importantes para mim e as lições que a vida, com toda sua simplicidade, me ensinou.
Ao longo dessas páginas, vocês vão encontrar de tudo um pouco. Tem amores, tem frustrações, tem alegrias e tristezas, mas uma coisa que vocês não vão encontrar é desamor. Não porque eu nunca sofri — porque, como todos, tive meus momentos de dor — mas porque sempre amei demais. Não no sentido de amar tudo e todos de maneira superficial, mas no sentido de que, quando amo, amo com intensidade. Mesmo que não seja por completo, porque a vida é longa e acredito que ainda vou viver um grande amor.
Amar, de verdade, na profundidade que o sentimento exige, só amei duas mulheres na minha vida. A primeira foi minha mãe, que até hoje ocupa o lugar mais especial no meu coração. Não existe amor maior, mais incondicional do que aquele que um filho sente por sua mãe, e esse sentimento é algo que carrego comigo aonde quer que eu vá. A segunda mulher é minha filha, que trouxe à minha vida um novo tipo de amor, diferente do que eu já havia conhecido. É um amor que mistura orgulho, responsabilidade, e a certeza de que, por mais que o tempo passe, ela sempre será minha menina. Essas duas mulheres são, sem dúvida, as mais importantes da minha vida, e por elas, eu faria qualquer coisa.
Mas não posso esquecer de mencionar o meu primeiro amor platônico, que também teve um papel importante na minha história. Seu nome era Maria Aparecida Feitosa, e ela foi, talvez, o grande amor da minha vida. Não no sentido de um romance realizado, mas no de uma paixão de infância, daquela que faz o coração bater mais rápido e a gente se perder em pensamentos sobre o que poderia ter sido. Ela era uma menina como eu, tímida, e embora eu a amasse profundamente, nunca tive coragem de me declarar.
Lembro de um episódio em particular, que ficou marcado para sempre na minha memória. Eu queria tanto dar um presente para Maria Aparecida, mostrar de alguma forma o que sentia, que fui à loja e comprei um disco. Era um vinil, compacto duplo, do Morris Albert, com a famosa música “Feelings” no lado A do Morris Albert, com a famosa música “Feelings” no lado A e uma canção menos conhecida, “Christine”, no lado B. Era meu presente para ela, mas na hora de entregá-lo, o medo tomou conta. E, no final, o que fiz? Deixei o disco na caixinha do correio dela, sem remetente. Eu a amava, mas o medo de ser rejeitado foi maior. E assim, o amor ficou só nas minhas lembranças.
Curiosamente, o destino me pregou uma peça. Anos depois, acabei me casando com Telma Campos de Lacerda, que era a melhor amiga de Maria Aparecida. Tivemos dois filhos, construímos uma vida juntos, mas após oito anos de casamento, nossas vidas seguiram caminhos diferentes. Nos separamos, e desde então, nunca mais soube de Maria Aparecida. Às vezes me pergunto o que teria acontecido se eu tivesse tido coragem de entregar o disco pessoalmente. Mas são apenas devaneios, fantasias que a mente cria.
Depois de Telma, conheci outra pessoa. Alguém que, por mais de uma vez, me fez acreditar que ela era a pessoa certa para mim. Ela era especial, diferente de todas as outras, e acreditei que finalmente havia encontrado aquele grande amor que eu sempre esperava viver. Mas, por ironia do destino, nunca tive a chance de estar ao lado dela de verdade. Fomos nos afastando, e a vida nos levou para direções opostas. Mesmo assim, ela ainda ocupa um lugar especial no meu coração. E é para essa pessoa, tão única e importante, que dedico todas as minhas composições. São sentimentos guardados, memórias que nunca tive a oportunidade de compartilhar com ela, mas que agora divido com vocês.
Este diário, então, é mais do que um simples livro de memórias. É um pedaço da minha vida, das minhas lembranças, dos meus amores e dos meus sonhos não realizados. Escrevo porque acredito que, no fundo, todos nós temos histórias assim, pequenas, mas que carregam o peso do mundo para quem as viveu. E é isso que faz a vida valer a pena.
Luze
azevedo
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